terça-feira, junho 24, 2008

Paixão

Enquanto te espero, recordo-me de como nos conhecemos, numa esplanada que poderia ser esta, não fosse o idioma estranho do empregado que na altura me abordava. A linguagem universal dos gestos e sinalefas não estava a resultar, e eu fazia um esforço sobre-humano para me fazer entender. (Não poderia ter escolhido outro local para fugir? Um cuja língua eu realmente compreendesse?) Foi então que surgiste, "a knight in shining armour", traduzindo com facilidade o meu pedido de almoço. Senti-me corar, e balbuciei um qualquer agradecimento. Com o à-vontade que te é característico, sentaste-te na minha mesa a pretexto de saber notícias da nossa terra natal. Seduziste-me com a boa disposição que tão naturalmente oferecias e com a atenção que me devotaste, fazendo-me sentir a pessoa mais interessante do mundo. Eu, totalmente envolvida pelo teu olhar, bebia cada uma das tuas palavras. Um par de horas depois, ofereceste-te para me mostrares os pontos de interesse da cidade. Conversa puxa conversa, acabamos por jantar juntos e, seguidamente, deste-me a conhecer a noite frenética que caracteriza esse cantinho do universo. Sentia que te conhecia desde sempre, tal a intensidade do que estavamos a viver. Mas era a véspera de voltar para casa, e o cansaço ditava que fosse descansar para o hotel. No entanto, sem pensar, acabei por ceder ao teu convite de te acompanhar até casa. Ainda estremeço ao pensar no teu toque. Se fechar os olhos ainda vejo o teu corpo, sendo contornado pelos meus dedos trémulos. O sabor dos teus lábios, o perfume que exalas… todos os sentidos despertos, pela onda de paixão que me inundava. Desnudados, senti-te a pele, num cálido abraço. Foram trocadas carícias e palavras foram sussurradas ao ouvido. Os beijos abafavam os gemidos e, ofegantes, entregamo-nos um ao outro. (Loucura e pecado, entrelaçaram-se com o desejo de, no teu corpo, me perder.) Sem pudores, deixamo-nos consumir pela paixão, até que chegou a hora da despedida. Numa tentativa de prolongar o momento, foi combinado um encontro no futuro. Agora, aqui estou eu, o futuro transformado em presente. Mas o tempo vai passando, as mesas são consecutivamente ocupadas e vagadas e só eu continuo sentada, à espera. Olho para o relógio e não acredito que ainda possas aparecer… Não fico surpresa, há coisas (e pessoas) que pura e simplesmente não estão destinadas a acontecer.

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