quarta-feira, setembro 27, 2006

Da faculdade.

Durante quase todo um ano lectivo, acreditei que o meu 4ºano coincidiria com o ano de transição para um Mestrado Integrado em Psicologia. Em apenas uma hora, uma reunião, desmoronaram-se as expectativas: o Ministério não aprovara os mestrados integrados para os cursos de Psicologia. Foram-se desenrolando as férias de Verão; em Agosto saíram os horários e as aulas recomeçavam dia 18 de Setembro. Após a desilusão inicial, a vida continuava normalmente. A uma semana do início das aulas, sem qualquer aviso prévio, surge a informação de que o mestrado integrado havia sido homologado. Gerou-se a confusão. Num piscar de olhos, deixaram de existir Variantes, para surgirem as Secções. O currículo sofreu uma forte remodelação e, consequentemente, surgiram novos horários. As aulas, afinal de contas, só teriam início no dia 25. É convocada uma reunião – no anfiteatro pairava um misto de excitação e ansiedade. Nesse dia, cai a bomba: existem vagas limitadas para a inscrição nas secções (e correspondentes núcleos). Instruções: fazer a inscrição para uma primeira e segunda opções, e esperar, até dia 3 de Outubro, pela lista de colocados. Entretanto, o que se espera de nós é que frequentemos as aulas das cadeiras a que temos esperança de conseguirmos inscrever-nos. As inscrições no 4º ano só se realizam no dia 4, a escolha dos horários sabe-se lá quando será feita.
Em vez das 5 cadeiras habituais, esta semana planeei ir a 7 – não sabendo ainda se fico na minha primeira opção, mais vale prevenir. Entretanto, apesar do caos, já se começa a pensar em trabalhos e a pesquisar os textos de leitura obrigatória. Para uma pessoa meio obsessiva e perfeccionista (eu), a incerteza desta situação gera uma ansiedade imensa. E cabeça para manter um blog, por enquanto, não há.

quinta-feira, setembro 14, 2006

"Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo."


Pablo Neruda

Volver

Um bom filme, no cinema de sempre. Uma óptima companhia & uma conversa agradável, com dois chocolates quentes fumegantes à frente. E assim se fazem dias perfeitos (mesmo com a chuva a teimar em cair antes do tempo).

Volver,
con la frente marchita,
las nieves del tiempo
platearon mi sien.
Sentir,
que es un soplo la vida,
que veinte años no es nada,
que febril la mirada
errante en las sombras
te busca y te nombra.
Vivir,
con el alma aferrada
a un dulce recuerdo,
que lloro otra vez.

terça-feira, setembro 12, 2006

Tenzin Gyatso (actual Dalai Lama)

"O meu apelo por uma revolução espiritual não é um apelo por uma revolução religiosa. Considero que a espiritualidade esteja relacionada com aquelas qualidades do espírito humano - tais como amor e compaixão, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, contentamento, noção de responsabilidade, noção de harmonia - que trazem felicidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros. É por isso que às vezes digo que talvez se possa dispensar a religião. O que não se pode dispensar são essas qualidades espirituais básicas."
Um gato cinza no telhado, olhos verdes que faíscam e rabo pendente. Por detrás, a lua redonda e branca - alcunham-na de Cheia (cheia dos sonhos e pedidos de quem a contempla?). Infinitas estrelas tremeluzem no alto, mas não chegam para alumiar o caminho. Uma estrada de alcatrão, negra não fora a luz baça de um ou outro candeeiro. E ela caminha, sob o olhar felino, bamboleando-se no alto dos seus saltos. Balança a carteira na mão, os cabelos acompanham a dança. O destino? Não o tinha quando saiu. Mas ele está traçado: o gume de uma faca reluz na esquina escura adiante…

segunda-feira, setembro 11, 2006

Reflexos de um Verão ...

por Teresinha

... que começa a Entardecer

por Teresinha

sábado, setembro 09, 2006

Manta de retalhos.

A vida é uma manta de retalhos, construída a cada passo que se dá. Cada experiência, cada pessoa com que se partilha o caminho, é um retalho acrescentado. Esta é uma costura feita de espontaneidade, em que não há um molde a seguir. Não pode ser pensada ou emendada.
Chegando ao fim do percurso, cada pessoa carrega consigo uma manta única. Feita de muitos ou poucos retalhos, mais ou menos colorida. Salpicada de lágrimas e de sangue, porque nem sempre a agulha perdoa a inexperiência. São mantas sem princípio, e nem mesmo um fim, pois confundem-se com as de outros, com que se partilham retalhos.

Quero

...........perder-me em beijos,

.....e unir-me em abraços.





[tenho saudades tuas...!]

Procura-se um Amigo

Vinícius de Moraes

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objectivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

quinta-feira, setembro 07, 2006

Súplica.

"..... se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de Sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. ..... Por favor... Prende-me a ti!"


In "O Principezinho", de Antoine de Saint-Exupéry

sexta-feira, setembro 01, 2006

Primeiro beijo.

O sol está a pé já há várias horas e eu não aguento mais estar em casa. Pego numa bolsa (daquelas de usar à tiracolo) grande o suficiente para poder transportar uns quantos bens essenciais – as chaves de casa, o telemóvel, um caderno, uma lapiseira, um livro, um leitor de cd’s… (quando viajo sem destino gosto de estar prevenida!). Ao atravessar a ombreira da porta, da fresca penumbra do átrio de entrada para a luminosidade feroz da rua, noto que o ar que se respira é morno e parado; mesmo com roupa fresca a temperatura não convida a grandes passeios. Quase maquinalmente, faço o caminho para o meu cantinho de sossego. Aí, sob os ramos piedosos de uma grande amoreira, encontro a frescura e a paz por que ansiava.
Do meu lugar central, numa das últimas filas do anfiteatro de pedra, tenho uma vista privilegiada do cenário em redor: para a esquerda, um homem de fato lê o jornal e, mais abaixo, senta-se uma velha senhora, de olhos fixos nas agulhas de tricô; abaixo de mim, uma adolescente, com uma revista aberta no colo, faz uma dança frenética com os polegares sobre o teclado do telemóvel; para a direita, ao nível do chão, um casal conversa calmamente, relanceando de quando em quando para o petiz que corre atrás da bola; mais longe, um rapaz, de headphones nos ouvidos, balança a cabeça ao ritmo da música que só ele ouve. Feito o reconhecimento do local, pego no livro e recomeço a leitura onde o marcador indica.
Os únicos sons são o chilrear dos pássaros, escondidos na folhagem das árvores, e o restolhar de folhas ao levantarem voo apressadamente. Também as horas voam e o sol começa a esconder-se por detrás dos edifícios, no horizonte. Noto os olhos cansados, as letras a bailarem desconexas; ao levantar o olhar do livro, acordo daquela outra realidade em que havia mergulhado e apercebo-me da meia-luz que me envolve. Arrefeceu. Pouso o livro e olho em redor: estou sozinha e, algures, um grilo chama por uma fêmea. Levanto-me para sair – as pernas entorpecidas por estarem horas na mesma posição.
Já a caminho da saída dou pela falta do livro, que cabeça esta! Volto atrás e lá está, onde o deixara, pousado no banco contíguo àquele onde havia estado sentada. Inspiro o ar fresco e reparo como o lago, ao fundo, está calmo. Um sussurro (ou seria um zumbido de um qualquer insecto?) atrai o meu olhar. Ao longe, dois jovens sentam-se lado a lado. Ele, com o torso virado para ela, diz-lhe algo em tom íntimo. Ela olha em frente, respondendo apenas com um sorriso tímido. Instala-se um silencio embaraçoso, e cada um procura fervorosamente algo para dizer. Subitamente, ele inclina-se e, pegando-lhe no queixo, direcciona a boca para a dela: os lábios tocam-se, por meros segundos, num beijo atabalhoado. Ela desvia a face e, muda, demora o olhar nos dedos fortemente entrelaçados. Ele, atrapalhado, pede desculpa pelo atrevimento. Por detrás de mim, alguém que passa pigarreia. Os dois vultos esfumam-se no ar. Recordações… Volto-me e percorro o caminho para casa, com um sorriso nos lábios, pensando em como o Tempo tudo transforma.